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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Essa nossa cultura

A notícia da extinção do ministério da cultura e a transferência de suas atribuições para uma secretaria vinculada ao Ministério da Educação, anunciada pelo governo interino de Michel temer, fez com que artistas e ativistas culturais se mobilizassem e até ocupassem dezenas de órgãos ligados ao ministério em todo o País em protesto.

Bons nomes do cenário cultural recusaram convite para assumir a ex-futura secretaria. O principal argumento dos que se posicionaram contra a medida do governo interino, era de que dada a importância da cultura, o órgão com a competência para gerir as políticas públicas relacionadas a ela não poderia ser uma mera secretaria vinculada ao Ministério da Educação, sem a autonomia que a pasta conquistou nas últimas três décadas.

Fato é que a mudança de status de ministério para secretaria vai além da nomenclatura, e da autonomia. A gestão do ministério da cultura , infelizmente, tem sido muito centralizada, burocrática e pouco transparente. Uma de suas principais políticas culturais, que se dá através da Lei Rouanet, possibilitando a captação de recursos para a realização de projetos culturais, como shows, filmes, livros, etc., é extremamente excludente.

As grandes empresas que patrocinam espetáculos e outras iniciativas através da Lei Rouanet, estão muito preocupadas com o "marketing cultural". Buscam associar suas marcas a grandes nomes da mídia nacional e internacional, e deixam de fora, na grande maioria das vezes, artistas e grupos que lutam com grande dificuldade para manter viva a nossa cultura.

Não vamos muito longe para mostrar isso. Temos um exemplo aqui mesmo em Quixeramobim, onde o Mestre Piauí, um dos mestres da cultura do Estado, cujo título foi obtido durante a gestão de Cláudia Leitão na secretaria estadual da cultura, no governo Lúcio Alcântara, enfrenta uma verdadeira batalha para levar seu Boi de Reisado para as ruas, para o povo, gratuitamente. E custa tão pouco manter viva essa cultura. Porém, dos milhões captados através da Rouanet, sequer uns trocadinhos chegam até grupos culturais como estes.

Até instituições bancárias como o Banco Santander tem lucrado com isso, tem se beneficiado com a Rouanet. Deixam de repassar para os cofres da União o dinheiro de impostos para, eles mesmos, gastarem como bem entenderem, se autopromovendo e engordando ainda mais suas contas bancárias. A pão e água vivem o Boi de Reisado, o artista circense, os maracatus, as quadrilhas juninas, dentre outros grupos culturais.

Quem tenta sobreviver de cultura e luta diariamente para manter vivas essas tão importantes manifestações, sabe bem do que estou falando. Não há , muitas vezes, nem dinheiro para o lanche, o combustível, ou mesmo para comprar ou reformar os figurinos.

Essa cultura a Lei Rouanet não alcança. Dá dó ver a quantidade de museus abandonados país afora e quanto acervo cultural por aí, perdido, por falta de um espaço para exibição para o público. Objetos, documentos, elementos da nossa formação cultural renegados em nome dos eventos de massa protagonizados por "celebridades" bastante questionáveis.

Não importa se é ministério ou secretaria, que nomenclatura tenha. O que precisamos é de um órgão gestor de políticas culturais que faça uma gestão transparente dos recursos, com ações que efetivamente promovam e fortaleçam a nossa cultura nacional. O que não se quer é mais do mesmo.

Por
Sérgio Machado
Radialista

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